O negócio da publicidade tem passado por transformações que afetam todos o seu atores , principalmente as agências , anunciantes e veículos de comunicação . A crescente concentração do setor em poucos , grandes e poderosos grupos é um dos reflexos dessas mudanças.A publicidade hoje é um complexo e sofisticado negócio financeiro multinacional que movimentou, só em 2006, 428 bilhões de dólares, segundo estudo recente da Zenith Optimedia, empresa do grupo francês Publicis, o quarto maior do mundo, com receita anual de U$5,2 bilhões, logo depois do Omnicom (U$9.7 bilhões ), WPP (U$8.2 bilhões ) e Interpublic (U$5.9 bilhões ).No Brasil, onde o investimento publicitário foi da ordem de U$6,5 bilhões em 2005, grande parte das maiores agências nacionais foi adquirida por esses grupos concentradores e as que restam em seu formato original devem também desaparecer como empresas independentes. É uma questão de tempo e da ocorrência de outras transformações já previstas, como a chegada das agências compradoras de espaço e tempo dos veículos de mídia . Essas agências, no formato da Zenith Optimedia, citada acima, já são uma realidade nos países civilizados, lideram o negócio publicitário em faturamento e só não chegaram ainda ao nosso país porque os fortes grupos de mídia nacionais recusam-se a reconhecer essas empresas como interlocutores ou compradores legítimos . Receiam que o poder de compra dessas agências possa vir a submetê-los, colocando-os em situação de inferioridade na negociação de compra e venda de espaço e tempo midiáticos.Na condição de independentes , sem filiação aos grandes grupos, sobreviverão as agências de pequeno ou médio porte , fornecedoras de talento criativo e serviços especializados.Essa aparente crise de acomodação do mercado tem afetado o negócio e a atividade dos publicitários , dos anunciantes e dos veículos de publicidade , tanto na forma da sua organização empresarial quanto no tipo de relacionamento até então existente entre eles. O sacrifício dos princípios de ética comercial historicamente estabelecidos é também uma das conseqüências visíveis .A publicidade no BrasilOs primeiros anos do século XX viram, no Brasil, o surgimento das primeiras agências de publicidade no formato que havia sido desenvolvido antes nos Estados Unidos, no século anterior , a partir da experiência dos corretores de anúncios de Chicago, que em certo momento passaram a oferecer a seus clientes serviços que iam além da venda pura e simples de espaço nos jornais . A redação de textos e a sua distribuição no espaço comprado, em forma de layout , foram os primeiros serviços oferecidos por essas empresas de corretagem que , com o passar do tempo , transformaram-se nas modernas agências de publicidade.
Depois das primeiras agências brasileiras que surgiram em São Paulo com o início da industrialização , como foi o caso da Eclética e da Pettinati, vieram as americanas Ayer, a J. Walter Thompson e o Departamento de Propaganda da GM, que trouxeram novo padrão estético e foram responsáveis pela formação técnica das primeiras gerações de publicitários brasileiros .Dois momentos importantes marcam a profissionalização da publicidade no Brasil: a criação da ABP-Associação Brasileira de Propaganda , em 1937, e da ABAP-Associação Brasileira das Agências de Publicidade, dez anos depois.Conforme o enunciado dos seus estatuto, a ABP foi criada com o objetivo de “ trabalhar pelo desenvolvimento e enobrecimento da propaganda e incentivar o desenvolvimento das técnicas de propaganda ”, além de “ defender os interesses dos que trabalham nesta profissão ”.A ABAP foi criada com o propósito de representar os interesses das agências de publicidade associadas junto à indústria da comunicação , poderes constituídos, mercado e sociedade.A ABP foi responsável pela elaboração do Código de Ética dos Profissionais de Propaganda, que teve um primeiro projeto elaborado em 1939, mas veio a ser realmente aprovado no primeiro congresso da classe, realizado no Rio de Janeiro, em outubro de 1957.O Código de ÉticaComo todo documento que se autodenomina um código de ética, o texto que foi aprovado no congresso é na verdade um código de conduta que obrigaria a um comportamento ético tanto as agências de publicidade quanto os anunciantes e os veículos de comunicação. Ficaram de fora , talvez por não serem considerados publicitários , talvez por esquecimento, os fornecedores da indústria da propaganda – gráficas , técnicos e todos os outros profissionais que contribuem para a produção final dos anúncios comerciais.Alguns parágrafos são muito importantes para que se identifique o espírito do Código e também porque são estes os mais invocados ao longo do tempo da sua vigência. Ei-los:O profissional da propaganda (...) jamais induzirá o povo ao erro ; jamais lançará mão da inverdade ; jamais disseminará a desonestidade e o vício. ( Parágrafo III da Introdução )Comissão é a retribuição, pelos veículos , do trabalho profissional , devida exclusivamente às agências e aos corretores de propaganda . A comissão se destina à manutenção das agências e dos corretores de propaganda e não poderá ser transferida aos anunciantes. ( Artigo 8 das Definições )Os veículos de propaganda reconhecem a necessidade de manter os corretores e as agências como fonte de negócios e progresso dos seus empreendimentos e, por isso , a eles reservam o pagamento da comissão com exclusão de quaisquer outros indivíduos ou entidades.(Artigo 9 das Normas)É proscrita por desleal a prestação de serviços profissionais gratuitos ou por preços inferiores aos da concorrência , a qualquer título , excetuados, naturalmente , os casos em que o beneficiário seja entidade incapaz de remunerá-los e cujos fins sejam de inegável proveito social coletivo. (Artigo 13 das Normas)O primeiro desses conceitos obriga o anúncio a ser verdadeiro e foi esta a preocupação que inspirou a criação do CONAR-Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária , criado em 1978 pelo III Congresso Nacional de Propaganda , o último realizado, desde então. Na verdade, o CONAR surgiu para substituir a censura prévia imposta aos anúncios pela ditadura militar. A classe sugeriu auto-regulamentar-se e assim foi pactuado com o governo.Os outros artigos citados, todos eles tratam do que seria uma justa remuneração para o trabalho das agências , representada pela comissão paga pelos veículos aos corretores de publicidade e às próprias agências , no valor de vinte por cento , equivalente ao desconto sobre os preços brutos das suas tabelas de preço.No decorrer do tempo desde o primeiro congresso , em 1957, a chegada dos clientes multinacionais , com a internacionalização da nossa economia e a aguda concorrência entre as agências de publicidade , muitas vezes predatória , aqueles artigos foram se tornando palavras mortas e o Código de Ética , adotado pela Lei 4.680, de 18 de junho de 1965, deixou de ser considerado, aos poucos , por todas as partes nele representadas.As empresas multinacionais estranhavam essa remuneração pré-fixada, pois em seus países haviam conquistado a livre negociação, depois da derrubada de uma comissão de 15 por cento que havia se tornado obsoleta no seu ambiente de negócios . As agências brasileiras, pressionadas, passaram a disputar esses clientes em desobediência aos princípios de conduta estabelecidos pelo Código de Ética , submetendo-se a uma lei maior imposta pelo mercado.Um esforço das agências de publicidade para estruturar organizadamente a atividade dentro do padrão histórico foi consolidado no CENP - Conselho Executivo das Normas Padrão , criado em 1998, com o objetivo de: “ fazer cumprir as Normas-Padrão da Atividade Publicitária , documento básico que define as condutas e regras das melhores práticas éticas e comerciais entre os principais agentes da publicidade brasileira ”.Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da tecnologia e a segmentação do mercado , que acompanhava a nova realidade social e econômica do país , determinaram a pulverização do negócio das agências, substituiu a palavra propaganda pelo conceito mais abrangente de comunicação de marketing e determinou as mudanças que transformaram o mercado brasileiro , onde as agências outrora haviam sido soberanas, num ambiente de prosperidade protegido pela Lei .A pulverização da publicidadeA agência de publicidade foi o centro irradiador de todas as atividades de comunicação de marketing , até o advento da crise a que nos referimos e das grandes mudanças ocorridas no mercado.Definida na teoria como uma das funções do marketing dos produtos de consumo , ao lado das outras funções que compõem o marketing-mix, tais como distribuição , embalagem e preço, a comunicação de marketing – em sua forma mais visível, a propaganda - é responsável pela predisposição do consumidor à compra de um produto . A criatividade dos anúncios é tanto mais eficaz quanto maior for a sua capacidade de vencer a natural barreira de indiferença do consumidor e movê-lo emocionalmente em direção à compra de um produto.O homem urbano que vive nas grandes cidades é alvo de milhares de solicitações a sua atenção , a cada dia , da hora em que desperta ao momento em que fecha os olhos para dormir . São mensagens e apelos diversos que disputam entre si para fazê-lo mover a cabeça em sua direção – notícias , chamadas , sons , letreiros e anúncios . Cada um deles busca seduzi-lo e convencê-lo. Esta é a razão para a natural barreira de indiferença , que surge como uma defesa psicológica natural diante de tantas solicitações.A forma tradicional de comunicação com o consumidor tem sido o anúncio comercial , que busca apresentar-se com impacto , originalidade e poder de persuasão. Mas o anúncio – sozinho – mostrou-se incapaz de preencher todas as necessidades da comunicação de marketing a preço compatível com sua eficiência . Os anunciantes passaram a questionar a propaganda em sua forma tradicional e a buscar alternativas para a promoção dos seus produtos junto a consumidores com grande diversidade de comportamento , estilos de vida e necessidades emocionais . Procuram, enfim, outras formas de anunciar que não se resumam apenas a anúncios caros e dispersivos . As atividades below-the-linee as mídias alternativas surgiram nesse contexto e outras empresas especializadas e segmentadas passaram a prestar serviços que antes eram reservados às agências de propaganda .Eis uma lista de alguns desses serviço, retirada do site da Associação de Marketing Promocional:
- Promoções com distribuição gratuita de prêmios , através de concursos , sorteios, vales-brinde ou operações assemelhadas.
- Ações constituídas de ofertas , descontos , liquidações , trocas , coleções , amostras grátis , brindes , vendas condicionadas com quaisquer itens acoplados a produtos , prêmios .
- Ações de demonstrações , degustações e amostragens .
- Atividades de marketing de incentivo : concursos de vendas e programas de incentivo à produtividade.
- Organização e implementação de feiras , exposições , convenções , seminários , reuniões , encontros , fóruns , simpósios , congressos , cursos , festivais , gincanas , desfiles , festejos , efemérides , certames , shows , patrocínios , copas , circuitos .
- As atividades de vitrinismo, lojismo, decorações, exibições , displayagens e exibitécnica em geral .
- Cuponagens, material de literatura e promocional de ponto-de-venda.
- Projetos de embalagens , marcas , logotipos , logomarcas , símbolos , programação visual , cintas , rótulos , envoltórios .
- Identificação corporativa.
- Ações de merchandising .
- Assessoria de imprensa e relações públicas.
- Marketing Direto , DBM, CRM, telemarketing , call e contact center.
- Marketing esportivo , cultural e social .
- Pesquisa .
- Marketing de Relacionamento, endomarketing.
- Eventos de qualquer natureza , incluindo os de lançamento de produtos , corporativos, sociais , culturais e esportivos .
- Internet : sua utilização na área .
- Brindes e gimmicks.
Outra revolução à vista ?Ainda não se tem estabelecido qual o verdadeiro espectro da Internet como veículo de publicidade , promoção de vendas ou comunicação de marketing lato sensu . Mas é de se esperar outras profundas mudanças no mercado da comunicação , provocadas pela Internet . O volume de investimentos nesta nova e poderosa mídia cresce a cada ano , confirmando a sua força . As previsões da Zenith Optimedia são no sentido de que os investimentos de publicidade via Internet vão crescer 84 por cento entre 2005 e 2008, em todo o mundo.Neste ano de 2006, a Internet já ultrapassou os investimentos em outdoor e deve também ultrapassar os investimentos em Rádio.Vide quadro :Advertising expenditure by mediumUS$ million, current prices Currency conversion at 2005 average rates.
2005
|
2006
|
2007
|
2008
| |
TV
|
149.910
|
158.982
|
167.140
|
177.650
|
Jornais
|
118.989
|
123.053
|
126.844
|
131.115
|
Revistas
|
52.821
|
54.666
|
56.995
|
59.407
|
Radio
|
34.232
|
35.323
|
36.448
|
37.746
|
Internet
|
18.568
|
24.091
|
29.149
|
34.164
|
Outdoor
|
21.753
|
23.298
|
25.011
|
26.807
|
Cinema
|
1.690
|
1.798
|
1.931
|
2.099
|
Total
|
397.962
|
421.210
|
443.519
|
468.988
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Fonte : Zenith OptimediaIsto significa que outras grandes transformações estão para vir, neste negócio . É esperar para ver.
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